Azoia de Cima
Situada num pequeno outeiro virado a sul, rodeada de oliveiras seculares, a freguesia de Azóia de Cima (antiga paróquia de Nossa Senhora da Graça) dista 16 quilómetros da sede do concelho.
Tem a sua sede na aldeia com o mesmo nome.
O topónimo azóia é de origem árabe (az-zâwiya) e significa canto, ermida ou capela.
Azóia de Cima é uma povoação muito antiga, de fundação anterior à Nacionalidade Portuguesa.
Em 1233 o Prior de Santa Maria de Alcáçova, S. Julião, concedeu a este lugar, a carta de povoamento.
A obra “Memória dos Forais” de Francisco Nunes Franklin refere que Azóia recebeu em 13 de Abril de 1255, em Santarém, uma carta de foral, atribuída pelo rei D. Afonso III.
Foi comenda da Ordem de S. Bento de Avis, anexa à comenda de Santa Maria de Alcáçova, da vila de Santarém.
Nos censos efectuados à população do reino, no ano de 1527, é referida a aldeia de Azóia de Cima, com vinte e nove vizinhos.
Francisco Nunes Franklin, Memórias dos Forais, Lisboa, Typographia da mesma Academia, 1825, 2º EdiçãoManuel Sílvio Conde, “Toponímia arábica de Shantarîn” in Revista Media Aetas 2, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, p. 122
Anselmo Braamcamp Freire, Archivo Histórico Português Lisboa, Tip. Calçada do Cabra, 1908, Vol. VI, p. 262 (cada vizinho corresponde a um fogo).
Em 1712 contava com oitenta vizinhos.
Em 1758, possuía quarenta e seis vizinhos e cento e sessenta e duas pessoas.
Compreendia sete lugares: Casal do Arroxo, com onze vizinhos e trinta e quatro pessoas; Casais do Arneiro, com catorze vizinhos e quarenta e sete pessoas; Casal do Frazal, com um vizinho e quatro pessoas; Casal das Eiras, com um vizinho e oito pessoas; Casal do Paço, com um vizinho e três pessoas; Casais da Atalaia, com quatro vizinhos e dezassete pessoas. Fora do lugar, possuía uma ermida dedicada a S. Sebastião.
Anna de Jesus Maria, uma das nove fundadoras do Recolhimento de Nª Sra. dos Inocentes, vulgarmente chamadas as Capuchas de Santarém, era natural desta freguesia.
Não tinha feira nem correio, servindo-se do correio de Santarém
Era muito rica em azeita.
Teve um grande privilégio pontifício, confirmado pelo rei D. José I, que isentava os moradores de jurisdição real.
As tropas francesas passaram por Azóia de Cima, aí permanecendo longos meses. Causaram muitos prejuízos à população. A comprovar este facto existe uma lápide, gravada na parece de uma casa muito antiga denominada “Casa dos Cedros” que pertenceu a Augusto Botelho Fogaça Lamy actualmente pertença do particular Nuno Coutinho, onde se pode ler que as tropas francesas entraram em Azóia de Cima em 24 de Outubro de 1810 e aí permaneceram até 05 de Marçode 1811 tendo instalado aqui o seu quartel-general.
Em 1861, a freguesia de Azóia de Cima contava com cento e oitenta e cinco fogos, a que corresponderiam cerca de seiscentos e cinquenta pessoas.
A.N.T.T., Memórias Paroquiais, Vol. 5, Mem. 84, fl. 1073 e segts.Pe António Carvalho da Costa, Corografia Portuguesa e Descrição Topográfica do Famoso Reino de Portugal, Lisboa, Officina Real Deslandesiana, 1712, Tomo III
Idem, Ibidem
Idem, ibidem
Fr. Francisco dos Prazeres Maranhão, “Azóia de Cima”, in Dicionário Geográfico de Portugal, Porto, Em Casa da Viúva Moré, 1862
Na parte norte desta localidade existem três grutas, ainda por explorar, e que serviram de habitação no período de ocupação muçulmana.
A estrutura da ponde romana, que comprava a antiguidade da freguesia, foi aproveitada para a construção de uma nova ponde, há cerca de vinte anos atrás.
A Igreja matriz, dedicada a Nossa Senhora da Graça, está situada na sede de freguesia.
Foi construída no século XVII.
A fachada é simples, com torre sineira. À esquerda do portal, um edículo trilobado, donde emerge uma escultura de pedra, quinhentista, com a figura da Nossa senhora da Graça.
O interior de uma só nave, é coberto por um tecto de madeira de três planos.
No altar-mor, destaca-se uma bonita cruz em madeira.
A capela-mor possuí azulejos do tipo padrão, do século XVII, em azul e amarelo. Na parede lateral, à direita, um nicho com a imagem em pedra de Nossa Senhora da Graça, que se supõe ser uma réplica da virgem quinhentista, existente na fachada da igreja.
À esquerda, uma lápide tumular mostra inscrição de 1624.
As Memórias Paroquiais, escritas em 1758, revelam que a igreja sofreu muitos prejuízos com o terramoto em 1755.
Foi restaurada em 1964, tendo sido destruídos, nas obras, um altar lateral e dois colaterais.
Azóia de Cima é rica na produção de azeite, trigo, fava, milho, vinho, aveia e cevada (no início do século chegaram a funcionar em pleno, sete lagares de azeite).
As indústrias mais desenvolvidas são, em finais do século XX, as de forno de cal, telha e tijolo, possuindo ainda alguns moinhos e lagares de azeite.
Tremez
Tremez situa-se no “Bairro”, uma das três regiões distintas que constituem a Província do Ribatejo. Esta Vila dista cerca de dezassete quilómetros e setenta metros da cidade de Santarém. Já era freguesia em 1640 e sempre pertenceu à comarca de Santarém. Agrega os seguintes lugares:
Água Peneira; Alto dos Fornos; Arneiro de Tremez; Bairro D. Constança; Casais de Maria Delfina; Casal da Azenha; Lourosa; Matas; Outeiro de Alfazema; Paço; Santos e Sinterra.
No Boletim da Junta da Província do Ribatejo (1937-1940) aparecem referidos os lugares de Casais de Figueiredo e Casais do Alto, não constando Casais de Maria Delfina e Alto dos Fornos.
A SEDE DE FREGUESIA
Vindos de Santarém pela estrada nacional nº362, alguns metros depois do cruzamento para a vizinha povoação de Azoia de Cima, a paisagem modifica-se.
Deparamo-nos com a mancha verde que emoldura o casario, cortado pela altura de algumas chaminés de fábricas que sobressaem ao longe.
Entrámos em Tremês.
Essa mancha que surge repentinamente surpreende o viajante mais atento que é, assim, confrontado com a nudez da Serra dos Candeeiros, dando a ilusão de terminar aí um espaço que nos pertence.
Hoje, essa paisagem já não é matizada por uma variedade de culturas e plantações como outrora, mas tem locais onde ainda se respira o ar puro misturado com o aroma de pinheiros e eucaliptos.
A POPULAÇÃO
O povoamento da freguesia parece não ser anterior à formação da Nacionalidade e, no 1º período da Monarquia devia ser muito fraco. Teriam sido as medidas tomadas por D. Dinis em 1294, privilegiando os Bairros de Santarém, que contribuíram para a fixação mais persistente da população.
Esta zona seria uma «espécie de terra de ninguém devastada pelas sucessivas correrias e invasões entre Santarém e Leiria». O Rei Lavrador, encontrando-se em Santarém, a 7 de Abril de 1294, expediu uma carta de privilégio e proteção aos povoadores desta região. Outros cartas foram dadas por este monarca e pelos que lhe sucederam concedendo graças e mercês aos lavradores dos Bairros de Santarém.
Em 1798, o Intendente Geral da Polícia da Corte e Reino, Diogo Ignácio de Pina Manique, prevendo uma invasão dos exércitos franceses, ordenou o recenseamento da população do Reino. Ficou conhecido como «Censo de Pina Manique» e tinha intuitos militares pois destinava-se a recrutar gente para o exército.
A freguesia de S. Thiago Maior de Tremês tinha, então, 226 fogos (cerca de 900 habitantes) pelo que contribuiu com 36 soldados voluntários.
Caminho de Santiago, ligação entre Santarém, Porto de Mós, Alcobaça e Leiria, passagem de Reis e Rainhos, tudo isto deve ter tido influência no povoamento e evolução da zonza.
In “A Freguesia de Tremez História e estórias”
O NOSSO PATRIMÓNIO HISTÓRICO
A igreja Matriz de Tremês, o cruzeiro, as ruínas da Ermida de nossa Senhora dos “Peruzinhos” (cuja história se perde na memória dos tempos) e a fonte “romana” dos Santos são, no entanto, testemunhos de grande valor para os seus habitantes.
Em Memórias Paraquiais (1758) aparecem referidas duas capelas em Santos, uma em Água Peneira e outra em Bairro de D. Constança.
IGREJA MATRIZ DE TREMÊS
Desde os tempos medievais, todos os cristãos do mundo tinham os olhos postos em Compostela e movimentavam as suas atenções para o túmulo do Apóstolo Tiago (Jacobus, Iago, Jacques – filho de Zebedeu e Salomé e irmão de João enagelista).
Eram vários os caminhos de peregrinação ao túmulo do Apóstolo e um deles passava por Tremês. A testemunha-lo temos a Igreja Matriz cujo orago é S. Tiago Maior.
Segundo o Sr. Professor Dr. Veríssimo Serrão. Os peregrinos contribuíam com esmolas para a edificação e manutenção da igreja.
Este Ilustre Historiador diz que a igreja de Tremez é muito antigo e faz essa afirmação baseando-se num documento de D. Vasco Martins, bispo de Lisboa, que depois de ter visitado as igrejas de Santarém e das redondezas, no ano de 1342, talvez em novembro ou dezembro, esteve na igreja de Santiago de Tremez cujo padroado pertencia a Afonso Sanches. Também, já em 20 de janeiro 1431 havia pároco e da nomeação do Pároco extrai-se a maior ou menor importância da povoação. Nessa altura era pároco de Tremez o Padre João Vicente, mestre em artes e médico ao mesmo tempo reito da Igreja Paroquial de S. Tiago Maior de Tremez.
In “A Freguesia de Tremez História e estórias”
O templo tem exterior vulgar tendo sido reedificado em 1867 «nada conservando da sua traça primitiva» (Tesouros Artísticos de Portugal)
«O pórtico, único pormenor digno de nota, é enquadrado por entablamento e duas colunas».
O interior, de uma só nave, é decorado por «um silhar de azulejos de tipo enxadrezado do séx.XVII». O teto é de madeira.
O púlpito é do séc.XVIII com pilares de caneluras.
O coro é vulgar, agora enriquecido com a colocação de parte da teia de madeira «entalhada de ornatos de belo efeito» que separava o corpo da igreja da capela-mor. Esta é «abobadada de berço com pintura e revestida de azulejos do séc. XVIII, azuis e amarelos de tipo padrão». Novos azulejos foram colocados na década de 70 a cobrir a parte que correspondia ao altar-mor que fora retirado.
Em lugar de destaque, pode-se admirar uma imagem figurando o orago Santiago Maior. Nos Tesouros Artísticos de Portugal a imagem é referida como seiscentista mas aparece no Inventário Artístico do Distrito de Santarém como seiscentista, mas aparece no Inventário Artístico do Distrito de Santarém como setecentista.
O baptistério conserva restos de um antigo forro de azulejos de «tipo mudéjar»
A AGRICULTURA
Esta freguesia dedicou-se, durante décadas, a uma economia agrícola de subsistência.
Agrologicamente, os seus terrenos são caracterizados por uma constituíção frequentemente argilo-cálcária, havendo solos muito saibrentes e assentes sobre subsolo cimentado e endurecido de “surraipa”.
Nas terras de constituição mais encorpada, surgem várias culturas com predomínio da oliveira, da vinha e dos cereais. Nas terras saibrentes e pobres, existem grandes extenções de pinhal e eucaliptal.
Os terrenos de cultura, outrora rasgados por pachorrentas juntas de bois que arrastavam atrás de si o arado, são, hoje, preparados por máquinas.
Os tempos mudaram. O aperfeiçoamento da maquinaria agrícola e a aquisição de novos conhecimentos técnicos operaram uma transformação que muitas pessoas não têm conseguido acompnhar.
Agora, deparamo-nos com muitos terrenos incultos e outros, que antigamente tinham vinha e olival, transformandos em grandes pinhais e eucaliptais.
A INDÚSTRIA
A cerâmica e a cal
Em 1979, o prof. Albertino Henriques Barata referiu, num artigo publicado no Correio do Ribatejo com o título “Tremês no passado e no presente”, a importância das indústrias de cerâmica e de cal, dizendo «Esta freguesia é das mais prósperas do concelho de Santarém. A industria relacionada com os fornos de cal, além de outras, tem contribuido bastante para o seu desenvolvimento. Possui uma fábrica de louças finas, a Maritália, que rivaliza com as melhores do país.»
Numerosas fábricas de cerâmica para a construçãocivil-telha e tijolo- existiram na freguesia.
A crise económica que se tem feito sentir há alguns anos, levou ao encerramento de algumas.
Os fornos de cal também estão desactivados visto que a produção decaíu. Hoje, não há nenhum em atividade, embora ainda se encontrem em razoável estado de conservação.
As actividades artesanais também tiveram a sua importância.
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